Em suma, é o seguinte: com a filosofia, os gregos antigos perguntavam sobre a realidade, os modernos, com Descartes, passaram a perguntar sobre o conhecimento da realidade e, assim, criaram a dualidade sujeito-objeto, transformaram a filosofia em epistemologia (subjugando a metafísica, a ontologia e a cosmologia (e a ética, estética etc.) à teoria do conhecimento) e, enfim, criaram o que a coleção "Os Pensadores", a Abril Cultural, espelha muito bem: todos os textos publicados lá e, portanto, considerados como sendo os centrais na filosofia, são textos de "método". Por que? Porque se digo que a tarefa básica de um filósofo é explicar o conhecimento, volto minha atenção para o polo cognitivo da relação sujeito-objeto e, então, passo a criar uma exposição de como é que o conhecimento é possível e como é que ele ocorre. O conhecimento, que é "crença verdadeira bem justificada", torna-se o centro da filosofia. É necessário então explicar, agora não mais de modo vago, a verdade e como as crenças ganham valor de verdade. Se digo tudo isso do conhecimento, a pergunta que me fazem é: como você chegou a tudo isso? Como você pode montar uma teoria do conhecimento que é melhor do que a do seu vizinho, o filósofo concorrente. Então, eu digo: eu mostro meu método, ele é que é superior ao do meu vizinho. Assim, a característica da história da filosofia, guiada pelo pensamento moderno, é a de tomar a filosofia a partir de dois núcleos: texto de epistemologia seguido de texto de método.
Os textos de epistemologia e de método avançaram a ponto de ampliarem em muito o que hoje chamamos de filosofia da mente. Tentando explicar o funcionamento do aparato cognitivo e a verdade, os filósofos chegaram a dois pontos: 1) o sujeito não é uma unidade e, talvez, nem seja sujeito, talvez tenhamos de manter a noção de mente e de individualidade, mas não associá-la, mais, imediatamente, à noção de sujeito moderno - ou abandonamos tal noção ou a reconstruímos; 2) a mente não consegue apontar para o real e explorar o real sem a linguagem, pois esta não é apenas a expressão de pensamentos e, sim, a maquinaria do próprio pensamento e a única forma pela qual acessamos o pensamento, nosso e de outrem.
Este segundo ponto é o centro da linguistic turn: os filósofos tenderam, então, a centrar atenção na linguagem, em vários sentidos. A filosofia da linguagem ganhou um impulso muito grande no século XX e tende a chamar a atenção, ainda, como ponto central, no século XXI.
Essas duas conclusões fizeram a ponte da filosofia moderna para a filosofia contemporânea.
Bem, Iara, o que você pode fazer agora é ver isso, de modo mais detalhado, no meu livro da Editora Manole, o Introdução à filosofia.
Pode ver também mais coisas nos blogs anunciados no Portal Brasileiro da Filosofia: http://pragmatismo.blogspot.com , http://professordefilosofia.blogspot.com
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