quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Diferenças sobre Rorty e Foucault

Para haver diferenças é necessário haver convergências. O chão comum entre Foucault e Rorty é o da subjetividade e o da verdade. Ambos estão preocupados com a entrada da filosofia contemporânea em cena, que desbanca a filosofia moderna nos temas da verdade e da subjetividade, e que tem consequências para a filosofia social.
No tema da verdade, Foucault diz preferir antes fazer a história da verdade do que descobrir a verdade da história (e de tudo o mais). Rorty, por sua vez, opta por uma determinada, e particular interpretação de Davidson: a verdade é uma noção que temos em nossa linguagem, pois sem ela não teríamos facilidade com os nossos jogos de linguagem, mas não existe uma questão filosoficamente interessante, substantiva, em relação à verdade. Apesar disso, Rorty faz uma descrição dos usos de verdade, e Foucault faz uma história da verdade, e ambos querem colocar tais coisas como em substituição às teorias de verdade, tão ao gosto da filosofia analítica.
No tema da subjetivida, Foucault diz preferir antes fazer a história do sujeito do que acoplá-lo ao homem e fazer de ambos um ponto arquimediano metafísico. Rorty, por sua vez, vê que Dewey, Quine e Davidson deixaram de lado a possibilidade da "linguagem privada", colocaram objeções ao que Quine chamou de o "mito do museu" - as semânticas acríticas que acreditavam na possibilidade de que para cada frase ou palavra haver um significado, um elemento, quase uma substância - e, enfim, desmistificaram a idéia de uma mente capaz de representações (no sentido filosófico, e não psicológico do termo), como aquela caixa cartesiana, uma espécie de palco interno onde aconteceriam situações correspondentes à realidade; sendo assim, Rorty eliminou a noção de mente moderna, o último sustentáculo de uma teoria da subjetividade que garantiria, ainda, a existência de uma noção de sujeito onde o exterior se relacionaria com o mundo, e o interior com o inefável e mais real.
Os pontos de discordância entre Foucault e Rorty se dão, mais, no plano da filosofia social. Para o primeiro, suas conclusões filosóficas acarretam um desecanto em relação a política democrática e às utopias, enquanto que Rorty não vê ligação necessária - somente ad hoc - entre conclusões filosóficas e posições políticas e, assim, cultiva a política democrática como um ponto para falar de uma utopia, ainda que seja sempre uma utopia vaga, onde apenas os primeiros passos são visíveis: aqueles que apontam para a parcela de Welfare State realizado pelas democracias ricas do Ocidente.

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