sábado, 26 de dezembro de 2009

MATERIAL IMPORTANTE PARA EDUCADORES
Antes tido como o responsável por encaminhar os estudantes considerados "problema" a psicólogos, o orientador educacional ganhou uma nova função, perdeu o antigo e pejorativo rótulo de delegado e hoje trabalha para intermediar os conflitos escolares e ajudar os professores a lidar com alunos com dificuldade de aprendizagem.
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Regulamentado por decreto federal, o cargo é desempenhado por um pedagogo especializado (nas redes públicas, sua presença é obrigatória de acordo com leis municipais e estaduais). Enquanto o coordenador pedagógico garante o cumprimento do planejamento e dá suporte formativo aos educadores, ele faz a ponte entre estudantes, docentes e pais. Para ter sucesso, precisa construir uma relação de confiança que permita administrar os diferentes pontos de vista, ter a habilidade de negociar e prever ações. Do contrário, passa a se dedicar aos incêndios diários. "Garantir a integração dos atores educacionais e avaliar o processo evita a dispersão", explica Sônia Aidar, titular do posto na Escola Projeto Vida, em São Paulo. É também seu papel manter reuniões semanais com as classes para mapear problemas, dar suporte a crianças com questões de relacionamento e estabelecer uma parceria com as famílias, quando há a desconfiança de que a dificuldade esteja em casa. "Antes, o cargo tinha mais um enfoque clínico. A rotina era ser o responsável por encaminhar alunos a especialistas, como médicos, fonoaudiólogos etc.", explica Sônia. Recentemente, o orientador passou a atuar de forma a atender os estudantes levando em conta que eles estão inseridos em um contexto social, o que influencia o processo de aprendizagem. "Essa mudança tem a ver com a influência de teóricos construtivistas, como Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygostky (1896-1934) e Henri Wallon (1879-1962), nos projetos pedagógicos das escolas, cada vez mais pautados pela psicologia do desenvolvimento - o estudo científico das mudanças de comportamento relacionadas à idade durante a vida de uma pessoa." Em algumas redes, como em Guarulhos, na Grande São Paulo, essa ajuda vem de fora. A organização não-governamental Lugar de Vida, por exemplo, foi contratada pela prefeitura para prestar o serviço de orientação. O programa foi pensado para que a equipe da escola tenha encontros quinzenais, de duas horas cada um, com o pessoal da entidade para falar sobre dificuldades diversas. As primeiras reuniões geralmente se iniciavam com um longo silêncio, mas terminavam com os participantes contando experiências muitas vezes traumáticas. "Percebi logo que não se costuma falar sobre esses problemas. Os docentes têm dificuldade em compartilhá-los com seus pares e, com isso, acabam por não resolvê-los", conta Fernando Colli, psicanalista e coordenador da Lugar de Vida. Quando essa dinâmica está incorporada à unidade de ensino, o trabalho flui de forma mais contínua. Para mostrar como isso funciona, ouvimos três orientadores com perfis distintos. Todos foram convidados a narrar seu dia-a-dia em textos em primeira pessoa - você confere o resultado abaixo. Maria Eugênia de Toledo, da Escola Projeto Vida, fala sobre como é lidar diretamente com crianças e jovens. O relato de Lidnei Ventura, da EBM Brigadeiro Eduardo Gomes, em Florianópolis, é um bom exemplo da rotina de quem trabalha lado a lado com os professores. E Suzana Moreira Pacheco, titular do posto na EMEF Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, em Porto Alegre, conta como é ser o elo com a comunidade.Convívio e parceria com os estudantes

Foto: Rodrigo Erib
"Meu nome é Maria Eugênia Toledo e, desde 2002, sou orientadora responsável por sete turmas do 6º e do 7º ano da Escola Projeto Vida, em São Paulo. A demanda de acompanhamento dos jovens é grande. O desafio é não descuidar do coletivo, ao mesmo tempo que desenvolvemos uma série de intervenções individuais. Recentemente, precisei sentar e conversar com um aluno que fez uma coisa errada. Os professores reclamavam que ele dava trabalho e provocava os colegas. Em nossa conversa, ele chorou muito e desabafou: ninguém enxergava suas qualidades. Eu disse: 'Você tem de mostrar seu lado bom. É sua meta. Combinado?' Ele respondeu que sim. Estávamos de acordo. Uma semana depois, a escola promoveu um passeio à exposição Diálogos no Escuro (ambiente em que se simula o cotidiano dos deficientes visuais), na cidade de Campinas, a 98 quilômetros de São Paulo. Esse estudante foi. Para minha surpresa, quando estávamos no escuro para conversar com os guias cegos, ele fez as melhores perguntas. Queria saber se os guias eram vaidosos, como era o dia-a-dia deles etc. No fim do programa, um deles perguntou o nome do aluno e disse: 'Eu enxergo muitas coisas boas em você'. A reação do estudante foi incrível. Ele me disse, comovido: 'Puxa, o cara não enxerga, mas viu minhas qualidades'. Essas situações trazem um efeito positivo para toda a vida da pessoa. Para fazer parte do convívio dos estudantes, chego meia hora antes do início das aulas, às 7 da manhã. Acho que o orientador não pode atuar só em classe, por isso acompanho a circulação no pátio, nos intervalos e nas atividades de grupo fora de sala. Estou sempre circulando entre eles. Além disso, temos um encontro semanal com cada uma das turmas. Funciona como se fosse uma aula dentro da grade curricular, mas tem uma especificidade de temas. Por exemplo, do 6º ao 9º, eles passam pelo Projeto Vida e Saúde, no qual discutimos questões como alimentação, drogas, sexualidade, mídia e relação com o corpo. No 7º ano, trabalhamos a entrada na adolescência. Nesses encontros, elaboramos cartazes com três colunas (eu critico, eu solicito, eu quero discutir) em que os estudantes, de forma anônima, colocam os fatos - sempre os fatos. Então, conversamos sobre cada assunto por categoria (respeito entre eles, uso inadequado do espaço etc.). As soluções vêm do grupo. Todos pensam sobre como têm administrado os próprios conflitos. Incentivamos a formação de uma pessoa crítica, sempre em conjunto com o professor e a família." Ponte entre a turma e os professores
Foto: Danisio Silva/Tempo Editorial
"Sou Lidnei Ventura, orientador da EBM Brigadeiro Eduardo Gomes. Aqui, na rede pública de Florianópolis, a portaria nº 6 de 2006 estabelece uma proporção entre os orientadores educacionais e o número de alunos por escola. Muitas vezes, como no meu caso atualmente, esses profissionais acumulam a função com a coordenação pedagógica. Moderamos as relações na unidade de ensino, verificando problemas e buscando soluções conjuntas. Tudo isso sem perder de vista o desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Por isso mesmo, nosso contato com os professores tem de ser muito próximo. Como temos 750 alunos na unidade, a demanda é bem grande. Recebo diversos tipos de situação, como casos de indisciplina, dificuldade de aprendizagem e baixa frequência. Às vezes, observo um descompasso entre o docente e a história das famílias. Nesses casos, cabe a mim fazer a ponte. No ano passado, por exemplo, os educadores vieram me avisar, preocupados, sobre um aluno que estava vivenciando a separação dos pais: 'Lidnei, ele parou de vir à escola'. Acontece. A criança fica perdida nessa hora. Não está pronta para passar por aquilo e pode até desistir dos estudos por causa disso. Eu e os professores nos juntamos para estimular o estudante a voltar para as aulas - afinal, estávamos perto do fim do ano escolar. Ligamos para os pais, pedindo que eles continuassem a trazê-lo. Conversamos individualmente com os amigos mais chegados ao rapaz para que eles pudessem de alguma forma ajudar. Queríamos, além de tudo, incentivar a solidariedade entre eles. O resultado foi incrível. Pouco a pouco, o aluno foi voltando à escola. Se não fossem os educadores atuantes, fazendo essa ponte com a orientação, perderíamos o jovem. E ele ficaria atrasado nos estudos. Toda essa interação com os professores é feita no dia-a-dia ou durante as reuniões pedagógicas trimestrais e de planejamento (mensais), quando discutimos também as temáticas que têm a ver com o cotidiano educacional na escola, sempre buscando ajudar o docente a encontrar o melhor caminho para o aluno. Do 1º ao 5º ano, o professor é quem passa para o orientador as informações sobre os alunos, já que é possível manter um contato mais individualizado com a turma. Do 6º ano em diante, existe uma dificuldade maior. Até o docente conseguir identificar os problemas de aprendizagem, leva tempo. Por isso, preciso ajudá-lo, contando a história de cada aluno, as dificuldades ou habilidades, quem é a família e quem devemos chamar à escola em caso de complicações. São dados que levanto em conversas que tenho com cada jovem em outros momentos. Outra questão é que acredito ser fundamental o contato dos professores com os pais. Nossa unidade não é uma ilha. É preciso discutir em conjunto o desenvolvimento das crianças. Com esse objetivo, programamos alguns eventos de interação - previstos para esse ano. Queremos chamá-los para alguns ciclos de palestras sobre as problemáticas da adolescência. É o nosso desafio em 2009: desenvolver projetos que tragam a comunidade para dentro do espaço da unidade de ensino de forma planejada e produtiva." Os pais como aliados no ensino dos filhos
Foto: Tamires Kopp/Print Maker
"A EMEF Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, em Porto Alegre, foi uma conquista da comunidade do Morro Alto - que se mobilizou pela construção da escola junto à prefeitura. Por isso, o entorno está muito presente em nosso dia-a-dia. Tudo isso representa uma satisfação para mim, Suzana Moreira Pacheco, orientadora da unidade. Como forma de perpetuar essa relação, sempre busco prestar apoio ao professor, ao estudante e à família. Junto aos pais, particularmente, promovo entrevistas e acolhimento de alunos que estejam chegando. Participamos ainda de fóruns ligados à proteção da criança e do adolescente e realizamos grupos de reflexão com a comunidade. Tenho muitos casos interessantes que mostram o sucesso do trabalho. Um deles é o de uma família bastante carente que chegou à comunidade. Eles viviam em situação muito precária, num ambiente de dois cômodos com cinco filhos, uma matriculada em nossa unidade. Além disso, a mãe, Lusia Flores Machado (que aparece comigo na foto), nem sempre se entendia com a gente. Em poucos dias, a aluna começou a faltar. Não pensei duas vezes: fui até a casa da família buscá-la. Às vezes, chegava e eles me diziam: 'Ela se atrasou hoje...' Eu respondia que não tinha importância. Esperava que eles a aprontassem e levava a menina para a aula, mesmo atrasada. Cansei de ir buscar essa aluna em sua residência. Depois, o problema virou o material escolar. Vira e mexe, ela chegava sem nada para anotar. O fato é que todas as pessoas da família utilizavam o caderno. Ela, com 7 anos, não conseguia se organizar naquele espaço. Cheguei a sugerir que ela guardasse as coisas em uma caixa. Aos poucos, consegui pontuar com a família a importância de cuidar do material. Ao mesmo tempo, acionei um trabalho em rede com outras instâncias, como o posto de saúde e a assistência social. Consegui que a família participasse de um programa de auxílio do governo. Isso para que eles tivessem uma estrutura mínima para que as crianças pudessem frequentar a escola. Recentemente, essa mãe me procurou, avisando que tinha conseguido um trabalho e que não conseguiria mais levar um dos filhos, um aluno com deficiência, ao serviço da prefeitura para a educação inclusiva. Para ela, a prioridade era colocar dinheiro em casa, mas juntas encontramos uma alternativa, conciliando os dias da semana e os horários do serviço com o novo emprego. Nesse caso, ela fez tudo o que podia. Cabe ao orientador, dentro dos seus limites e com cuidado, ajudar a pessoa a enxergar a saída e acionar os recursos disponíveis."
Reportagem sugerida por seis leitores: Ana Paula Menezes de Freitas, Mesquita, RJ, Danielle Meireles, Salvador, BA, Francini Sayonara Versiani, Montes Claros, MG, Leonardo Ferreira dos Santos, São Paulo, SP, Patrícia Knak, Campo Bom, RS, e Waldete Salem Mestrinho da Rocha, Manaus, AM




Equívocos em série
Aulas perdidas, desrespeito à diversidade cultural e à liberdade religiosa... Aqui, os dez erros mais comuns nas festas escolares
Julia Priolli
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Julia Priolli');
Ilustração: Walter Vasconcelos
Durante o ano, temos 11 feriados nacionais – na média de um a cada cinco semanas –, um monte de datas para lembrar pessoas (Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, do Índio) e fatos históricos (Descobrimento do Brasil, Proclamação da República). Sem contar os acontecimentos de importância regional. Nada contra eles. O problema é que muitas vezes a escola usa o precioso tempo das aulas para organizar comemorações relacionadas a essas efemérides. O aluno é levado a executar tarefas que raramente têm relação com o currículo. Muitos professores acreditam que estão ensinando alguma coisa sobre a questão indígena no Brasil só porque pedem que a turma venha de cocar no dia 19 de abril – o que, obviamente, não funciona do ponto de vista pedagógico.
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Festas são bem-vindas na escola, mas com o simples – e importante – propósito de ser um momento de recreação ou de finalização de um projeto didático. É a oportunidade de compartilhar com os colegas e com os familiares o que os alunos aprenderam (leia mais no quadro abaixo). No entanto, não é isso que se vê por aí. A seguir, os dez principais equívocos dos eventos escolares.
1. O desnecessário vínculo com efemérides
Essa palavra estranha tem origem na astronomia e dá nome a uma tabela que informa a posição de um astro em intervalos de tempo regularmente espaçados. No popular, o termo é usado no plural e significa a seqüência de datas lembradas anualmente. Algumas têm dia fixo (Independência, Bandeira); outras, não (Carnaval, Dia das Mães). Até aí, nada de mais. O problema é quando a escola usa tudo isso como base para montar o currículo. "Planejar o ano letivo seguindo efemérides desfavorece a ampliação de conhecimentos sobre fatos e conceitos", afirma Marília Novaes, psicóloga e uma das coordenadoras do programa Escola que Vale, de São Paulo. Exemplo? Dia do Índio. A lembrança não envolve estudos sobre as questões social, histórica e cultural das nações indígenas brasileiras. Para haver aprendizagem, é preciso muita pesquisa e mais do que um dia festivo. Outro caso? Folclore. A escola é invadida por cucas, sacis e caiporas em agosto, já que o dia 22 é dedicado a ele por decreto. Ora, se o planejamento prevê o uso de parlendas e trava-línguas durante o processo de alfabetização e de estruturas narrativas, no ensino de Língua Portuguesa, que tragam informações sobre tradições, crenças e elementos da cultura popular, isso basta para que o tema seja tratado em qualquer época. Sem contar os tópicos cuja expressividade é questionável (Semana da Primavera) ou controversa, como o Dia dos Pais e o das Mães: "Enfatizar datas comerciais como essas é ignorar as mudanças no perfil da família brasileira, que nem sempre conta com as duas figuras em casa", completa a psicóloga.
2. O desrespeito à liberdade religiosa
Dos 11 feriados nacionais, cinco têm origem no catolicismo (Páscoa, Corpus Christi, Nossa Senhora Aparecida, Finados e Natal). As escolas que seguem essa religião lembram as datas. O problema é que as escolas públicas também. Segundo a Constituição da República, o Brasil é um Estado laico, ou seja, sem religião oficial. Porém, em quase todas as unidades de ensino há algum tipo de comemoração: as crianças da Educação Infantil (não importa se têm ou não religião) se fantasiam de coelhinho e pintam ovos em papel mimeografado. No fim do ano, uma árvore de Natal, com bolas e luzes, é montada na recepção ou no pátio. Segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos anos 1990, a maioria da população brasileira (73%) é católica. Mas uma escola inclusiva não esquece que os filhos dos 15% de evangélicos e dos 12% de seguidores de outros cultos ou não pertencentes a um deles também estão na sala de aula, certo? Para Renata Violante, consultora pedagógica do Instituto Sangari, em São Paulo, os educadores não podem dar a entender que uma religião é superior a outra (quais são mesmo as datas importantes para espíritas, judeus, budistas, islâmicos e tantos outros?). Existem espaços próprios para cultos. Definitivamente, a escola não é um deles. As festas juninas são um caso à parte: elas se tornaram uma instituição e perderam o vínculo religioso. O enfoque folclórico, resgatando alguns hábitos e brincadeiras e a culinária do homem do campo, tornaas mais democráticas.
3. A confusão entre o currículo e o tema da festa
A festa não ter relação com o currículo é um problema. Mas outro tão grave quanto é usá-la como pretexto para ensinar. "Já que temos de fazer bandeirinhas para enfeitar barraquinhas, então vamos aproveitar para ensinar geometria", pensam alguns professores bem-intencionados, esquecendo que um ensino eficiente requer planejamento, avaliação inicial e contínua e uma seqüência lógica que leve à construção do conhecimento. É como se, de repente, estimar a quantidade de pipocas no saquinho virasse conteúdo de Matemática.
4. O mau uso das poucas horas dedicadas às aulas de Arte
Não raro, o espaço que seria utilizado para essa disciplina é convertido em oficina de enfeites. Para colocar o aluno em situação de aprendizagem, é papel do professor de Arte propor atividades que favoreçam o percurso criador. "A subjetividade não pode ser ofuscada pelo sentido objetivo e funcional do ornamento, com caráter unicamente estético", afirma José Cavalhero, coordenador pedagógico do Instituto Rodrigo Mendes, em São Paulo. Na confecção de bandeirinhas, por exemplo, as crianças são orientadas a seguir um modelo preestabelecido sem dar espaço a suas marcas pessoais nem enfatizá-las. O modelo, que serviria apenas como referência para a elaboração de outras possibilidades, vira matriz para cópias – e a arte é um procedimento mais abrangente do que isso. A produção do estudante deve ter um propósito maior do que atender à expectativa do professor. "Caso a ocupação do ambiente festivo seja encarada como uma instalação ou intervenção artística, aí, sim, o aluno aprende em Arte", afirma Cavalhero.
5. A estereotipação dos personagens
Caipira com dente preto e roupas remendadas em junho, cocares e instrumentos de percussão em meados de abril. Esses estereótipos não correspondem à realidade. Homens e mulheres que moram no interior não se vestem dessa maneira, e os índios brasileiros vivem em contextos bem diferentes. "É inconcebível se divertir com base em elementos que remetem à humilhação e à ridicularização do outro", diz Mario Sérgio Cortella, filósofo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em sua opinião, essas práticas destoam da intenção educativa acolhedora e pluralista, pois, toda vez que se trata o outro com estranhamento, se promove a idéia de que há humanos que valem mais e outros, menos. "Quadrilha, sim, mas sem maquiagem nem fantasias grotescas que humilhem o homem do campo", completa Cortella.
6. A obrigatoriedade da participação
"Professora, não quero dançar", diz um. "Tenho vergonha de falar na frente de todo mundo", avisa outro. Quem já não ouviu essas frases dias antes de um evento escolar? Quando a festa nada tem a ver com a aprendizagem, os alunos não são obrigados a participar. Nesses casos, é proibido causar qualquer tipo de constrangimento a eles. Cabe ao professor colocar pouca ênfase nos momentos não relacionados ao aprendizado. "Imagine o que uma criança sente quando é colocada à força no meio da quadrilha. É uma atitude desrespeitosa com os sentimentos e a individualidade dela", afirma Maria Maura Barbosa, do Centro de ocumentação para a Ação (Cedac), de Paraupebas, a 700 q uilômetros de Belém. Ela afirma ainda que alguns pais optam por não se envolver por razões financeiras. "Quem não tem condição de arcar com uma fantasia para os filhos fica envergonhado e não participa. Fala-se tanto em inclusão, mas as festas às vezes excluem."
7. A finalidade incerta dos recursos arrecadados
Pequenas reformas, mobiliário novo, material pedagógico... Quando a verba que vem da secretaria não dá para comprar tudo, pensa-se em festa para arrecadar fundos. A comunidade é convidada, participa, gasta, e muitas vezes não fica sabendo o destino dos recursos. Pior, às vezes o dinheiro que seria usado na ampliação da biblioteca ou na compra de computadores vai para outro fim. A solução é divulgar o objetivo da iniciativa e prestar contas quando o bem for adquirido. Em tempo: a arrecadação sempre aumenta quando bebidas alcoólicas são vendidas. Renata Violante não acredita em meio-termo: "A bebida deve ser proibida. Os diretores que inventem outras maneiras de obter mais dinheiro".
8. O objetivo principal ser apenas atrair os pais
Eles não costumam ir às reuniões, não conversam com os professores sobre o avanço dos filhos e mal conhecem a escola. Os diretores pensam: "Quem sabe, para se divertirem, os pais venham até nós". Embora os momentos de confraternização com os familiares sejam importantes, eles não devem ser a única maneira de envolvê-los. Reuniões marcadas com antecedência e planejadas para compartilhar o processo de aprendizagem e a produção intelectual, artística e esportiva das crianças são as iniciativas que exibem os melhores resultados quando o objetivo é atrair e conquistar as famílias.
9. A única maneira de socializar a aprendizagem
Um dos objetivos da escola deve ser exibir a produção intelectual e artística do aluno, principalmente aos pais, nas mais variadas ocasiões. Fazer uma festa é apenas uma possibilidade, por isso não deve ser usada em excesso. Geralmente, o caráter de recreação costuma dificultar a apresentação dos saberes. "Já feiras e exposições favorecem o foco no conhecimento e permitem ainda situações de comunicação oral formal, importante maneira de compartilhar o aprendizado", explica Maura Barbosa, do Cedac. Exemplos: um seminário sobre um conteúdo trabalhado em Ciências ou um sarau de poesia. (E, depois disso tudo...)
10. O precioso tempo jogado fora
Usar a sala de aula ou o período que deveria ser dedicado a atividades pedagógicas para os preparativos é um desrespeito com as crianças e com o compromisso que a escola tem de ensinar. "O diretor raramente investe na ref lexão sobre os indicadores de aprendizagem dos alunos o mesmo tempo que gasta com a produção dos eventos. O professor, por sua vez, deixa de promover situações intencionais de ensino", afirma Maura. Se a festa não é concebida como maneira de contextualizar os conteúdos aprendidos, ela deve ser organizada sempre em horários alternativos aos das aulas.
Tem de ter festa!
Ninguém é contra festas, desde que elas sejam para recreação pura e simples ou uma maneira de socializar o aprendizado. As do primeiro tipo podem envolver todos e ser muito divertidas, desde que não ocupem o tempo de sala de aula na organização. Já as que são planejadas para finalizar o estudo de determinado conteúdo exigem muito preparo. Quando o evento faz parte do projeto didático, o tema precisa ser previsto no currículo (e é dispensável a relação com efemérides) e nada mais justo do que usar o tempo de sala de aula para a sua produção (que também envolve aprendizado). Antes de bolarem o evento junto com o professor, os alunos certamente serão convidados a pesquisar, levantar hipóteses, realizar diversos tipos de registros e trocar conhecimentos com os colegas. Já que a festa é uma das etapas do processo, fica proibido deixar alguém de fora. Se um aluno não quiser participar por qualquer motivo, cabe ao professor envolvê-lo e ajudá-lo a superar as dificuldades que surgirem, seja em relação a timidez, seja em relação a habilidades de comunicação.


Aula de tradição e de integração
Festejos juninos fazem parte da tradição e do calendário letivo. É possível aproveitar o evento para aproximar famílias, professores e funcionários
Cristiane Marangon
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Cristiane Marangon');
, de Itumbiara (GO)


Os "caipirinhas" da pré-escola, em Itumbiara: a comunidade entra na dança
A história sempre se repete: no mês de junho, a escola entra em polvorosa com a preparação das festas de São João, Santo Antônio e São Pedro. No ano passado, porém, as professoras Quiçaba Maria de Brito Piccin e Elinete dos Santos Lima, do Centro Municipal de Educação Infantil Orestes Borges Guimarães, em Itumbiara, a 211 quilômetros de Goiânia, resolveram fazer dos festejos um grande momento de integração. "Queríamos trazer a comunidade para a escola", diz Quiçaba. "Acreditávamos que essa socialização poderia ajudar no desenvolvimento dos alunos."
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Conhecer o folclore desde cedo
O primeiro passo das colegas foi marcar uma reunião com os pais. Nesse encontro elas contaram o que tinham em mente e pediram opiniões. Choveram sugestões. Uma delas veio de uma avó que se prontificou a dar uma aula sobre o batizado na fogueira. Ela explicou às crianças como é feita a cerimônia, sua origem, seu significado, esclareceu sobre os santos e suas orações, enfim, compartilhou todo o seu conhecimento. Para Gildo Scalco, professor de Didática na Educação Infantil da Universidade Federal de Minas Gerais, consultar e envolver a família é sempre produtivo. Ele alerta, porém, para que não se faça isso apenas como forma de conseguir ajuda braçal. "Envolvimento é muito mais que distribuir tarefas", diz.

Síntese do trabalho
Tema: Preservação do folclore nacional Objetivo: Socializar os alunos; promover a integração da família com a escola; conhecer a história das festas juninas e os elementos que a compõem; desenvolver o interesse e o gosto pela tradição Como chegar lá: Marque uma reunião com o pais para falar sobre a festa junina. Exponha a idéia e peça a colaboração dos famíliares. Estimule-os a opinar sobre o projeto e aceite as sugestões. Isso valoriza a participação deles. Leve livros e outros materiais sobre o assunto para a sala de aula como forma de apresentar costumes e tradições às crianças. Distribua tarefas para pais e filhos, inclusive no dia da festa. Dica: Quanto mais acessível for a festa, maior a integração. Arrecade doações e busque o apoio de empresas para que, se necessário, os preços das comidas e brincadeiras sejam baixos

Arraial para todos Propostas discutidas, Quiçaba e Elinete começaram o trabalho. Conversaram com os alunos para sondar o que eles sabiam sobre o assunto. A maioria fez relação à vida caipira e começou a mencionar tudo o que lembrava o campo. O fogão a lenha foi o mais citado. "Infelizmente não tive como levar um para a classe", lamenta Quiçaba. Mas isso não foi problema. A garotada fez uma pesquisa em casa sobre o que suas famílias possuíam. Surgiram panelas de ferro, lampião, ferro a brasa, candeia etc. Ainda assim, as professoras perceberam que os pequenos sabiam muito pouco. Como não tinham biblioteca, deram um jeito de pô-los em contato com livros sobre cultura popular. Nessa fase é essencial que o estudante pesquise e, para isso, ele precisa de materiais. Scalco sugere, na falta de recursos para pesquisa, troca de correspondências com outras escolas. "Além de manter relações, essa atitude fortalece a comunicação e diversifica a cultura." Já era hora de começar os preparativos. E as crianças queriam participar de todas as atividades, inclusive do preparo das comidas. Elinete e Quiçaba organizaram uma visita à cozinha. Com redinhas no cabelo e avental, a garotada fez um bolo de fubá. Seguiram a receita ao pé da letra e dos números. "Além da culinária, foi possível trabalhar medidas matemáticas", explica Elinete. Na semana que antecedeu o evento, a família foi ajudar nos preparativos. Enquanto os alunos ensaiavam a apresentação da quadrilha, as mães confeccionaram cartazes com receitas das iguarias e os pais montavam as barracas de brincadeiras e de comidas, que, aliás, eram gratuitas. Essa passagem merece destaque, pois a escola conseguiu muitas doações e isso, em uma comunidade carente, garante a presença de todos. Finalmente chegou o grande dia. Cinco charretes trouxeram os caipirinhas devidamente caracterizados e festejando muito. E não demorou para que a dança começasse. Quiçaba comandou a quadrilha, enquanto Elinete, vestida de homem e acompanhada de uma recreadora, puxava a coreografia. E balancê! Os pais também tiveram sua quadrilha, com direito a casamento caipira. Além de aproximar a família, a idéia trouxe mais alunos no ano seguinte. "Tínhamos 69 matrículas e hoje temos mais de 130", avalia Eliane Silva Martins, coordenadora pedagógica. Para Scalco, o trabalho das professoras tem o mérito de envolver a família. "Hoje a grande preocupação da Educação Infantil é integrar a comunidade e seu conhecimento", defende. "Acolher a cultura de grupo implica em uma transformação da escola."

Pais que seguem de perto a rotina
As famílias querem, sim, participar da vida escolar das crianças. Veja como garantir o envolvimento desses parceiros indispensáveis para uma boa Educação
Roberta Bencini
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Roberta Bencini');



O valor do desenho infantil: Vera aprendeu na escola a entender as produções da filha Beatriz
A relação começa no dia em que a mãe, o pai ou um responsável entregam a criança pela primeira vez no portão da escola. Ciúme, desconfiança e culpa são os sentimentos que mais estão em jogo nesse momento.Afinal, historicamente a mãe é a responsável pelos cuidados e pela Educação dos filhos. Mas os tempos mudaram e hoje cabe à escola mostrar que por trás de portas e paredes coloridas existem profissionais competentes e um projeto bem planejado de aprendizagem para ser compartilhado entre todos.O problema surge quando os professores e a direção não estão preparados para essa tarefa (não quando a família passa a questionar o projeto pedagógico ou simplesmente torna- se ausente)."Cabe à escola começar esse movimento de aproximação e parceria. Ela tem de estar à disposição diariamente e não apenas em reuniões e horários determinados", explica a diretora da creche da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eliana Bhering, que estuda há mais de dez anos o envolvimento das famílias na Educação Infantil.
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Os dez erros mais comuns nas festas escolares
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Uma de suas conclusões é que, sobretudo em comunidades mais carentes, é comum uma postura passiva de gratidão, o que faz com que a escola tenha de tomar decisões sozinha. "Isso é muito grave. Muitas famílias ainda vêem o ambiente escolar apenas como um espaço de assistencialismo e, nesse contexto, a Educação é encarada como um donativo, um favor", afirma a pedagoga. Conceitos equivocados como esse emperram as relações se não forem rompidos pelos educadores. O importante é mostrar que o ensino público é um direito garantido desde a infância.Quanto mais os pais se envolvem e cobram isso, maior a possibilidade de garantirem um estudo de qualidade para suas crianças.Explicar o projeto

Sem hora marcada: Márcia conversa com o professor Eric sempre que precisa
Estudos realizados por diversos pesquisadores brasileiros, como Ana Luiza Smolka, da Universidade de Campinas, e Andrea Vieira Zanella, da Universidade Federal de Santa Catarina, mostram que os pais gostariam de saber mais sobre a rotina nas creches e pré-escolas e de receber ajuda para compreenderem melhor o desenvolvimento infantil.Efigênia Mendes Junqueira Koga,diretora da EMEI Rogélio Cabeza Castro, em Barueri, na Grande São Paulo, percebeu isso quando passou a ser freqüentemente colocada diante de uma questão recorrente:"Meu filho passa o tempo todo na escola apenas desenhando?"O projeto pedagógico da escola tem como eixo central a Arte – e estava claro que as famílias não estavam entendendo nada. "As professoras pediam para que eu incentivasse os trabalhos da minha filha, Beatriz, mas como fazer isso se eu só via rabiscos no papel?", lembra Vera Hengles. Mais do que expor slides com diversos esquemas sobre o processo de aprendizagem,o caminho encontrado pela diretora foi colocar os adultos em contato direto com a cultura artística. Há dois anos, uma oficina de arte é oferecida aos pais uma vez por semestre. "É um curso voltado para gente grande porque não há nada mais ridículo do que infantilizar alguém e pedir para ele se colocar no lugar da criança", destaca a professora Neuma Dias Cruz. Os trabalhos dos adultos são expostos no meio da escola junto com os dos pequenos, e a comunidade pode apreciar a exposição livremente. Hoje os pais, como Vera, enxergam muito além dos rabiscos.
Cuidados compartilhados
Por muito tempo, o papel das creches se restringiu aos cuidados com os bebês e as crianças pequenas. Hoje, além de cuidar, os professores têm de educar. Muitos pais ainda não compreendem bem isso e limitam sua parceria com a escola ao momento em que a chupeta e as fraldas precisam ser abandonadas ou quando os meninos apresentam algum problema de saúde.Em contrapartida, muitos educadores acreditam que os cuidados caibam só às famílias e interpretam a falta de interesse dos pais pela aprendizagem como uma omissão. “A creche e a préescola precisam ser vistas também como fontes de formação de pais”, explica Eliana Bhering, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.Cláudia Araújo, diretora da UMEI Marli Sarney, sabe que o mais importante é o bem-estar das crianças e não se faz de rogada quando tem de orientar um pai sobre a melhor maneira de alimentar seu filho ou sobre a data da próxima vacinação. Ela também não pensou duas vezes antes de organizar uma palestra com um pediatra quando houve uma infestação de piolhos na escola. “Sei que essa também é minha função”, diz.

Não à burocracia

Ajudando a ensinar: Rúbia (ao lado da filha Maria Clara) revela a história de sua família para a turma
Marcelo Cunha Bueno, diretor da Escola Estilo de Aprender, em São Paulo, é adepto da simplificação no relacionamento com as famílias. "Dispenso a linguagem do pedagogês, que só afasta os pais. Procuro as relações de troca", afirma ele. Outra preocupação constante é não estabelecer uma relação de prestação de contas ou de vigilância com eles. Na entrada e na saída, as portas estão sempre abertas aos responsáveis pelas crianças. Eles podem ir até a sala buscar os filhos e ver, ao vivo, as atividades realizadas durante a aula, além de bater um papo rápido com o professor. A proposta pedagógica é apresentada no contato diário com a estrutura escolar e a equipe pedagógica. Assim, é possível flagrar discussões, broncas, atividades e brincadeiras entre as crianças.Nada do que acontece dentro da instituição é velado. Em contrapartida, o envolvimento da família é obrado."No início do ano, eu aviso: 'Mãe, não venha aqui só para perguntar a cor do cocô de seu filho'. É importante saber tudo o que ele está aprendendo", reforça Marcelo (leia mais sobre a importância dos cuidados na creche e na préescola no quadro abaixo).
Manual para creche e pré-escola
Como formar famílias envolvidas em dez passos1 - Fale sobre o projeto pedagógico Facilite a linguagem e mostre, desde a matrícula, como a escola concebe a Educação e planeja o trabalho pedagógico. 2 - Mostre o valor da rotina Trate da organização dos espaços e do tempo: atividades diárias e projetos, currículo e segurança. 3 - Destaque as linguagens Fale da importância do brincar, da expressão artística, da fala e da escrita (conte como em que momento elas são desenvolvidas). 4 - Mostre como é a avaliação Explique como e quando ela é feita; por que fazer um portfólio e por que não comparar crianças. 5 - Explore os recursos e materiais pedagógicos Dê atenção ao papel dos brinquedos e dos livros no desenvolvimento motor e cognitivo. 6 - Estabeleça acordos de trabalho Mostre a função de cada funcionário e os planos de capacitação. Peça colaboração durante a lição de casa, na adaptação, no desmame e na hora de abandonar chupeta e fraldas. Cobre a presença em reuniões, cumprimento de horários, leitura diária da agenda e organização diária da mochilas. 7 - Planeje os encontros Promova reuniões bimestrais coletivas e individuais, além de palestras e oficinas sobre questões pedagógicas e de cuidados, e festas e passeios para criar laços de amizade.8 - Mantenha canais de comunicação Utilize a agenda, produza um jornal e um mural e envie e-mails. 9 - Esteja disponível Receba bem críticas e sugestões. Atenda sempre os telefonemas e fique presente na entrada e na saída. 10 - Utilize os saberes dos pais Planeje as inserções deles na aprendizagem com a equipe de professores. Mas não se esqueça de combinar tudo com antecedência. Consultoria: Eliana Bhering, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Márcia Hindrikson Golz afirma que não troca esse tipo de organização por nada.Na saída do filho Gabriel Henrique, de 4 anos, ela sempre encontra tempo para trocar algumas palavras com o professor Eric Justino. Outro dia, descobriu que o garoto já escreve quase todas as letras do próprio nome."Sinto que faço parte dessa etapa tão importante da Educação dele. Dou sugestões e não me sinto uma intrusa", diz.Participação ativaUma maneira comum de atrair os pais para a escola é por meio dos projetos pedagógicos. Convidar um adulto para contar a história da família e do bairro e recordar as brincadeiras preferidas da infância valoriza a participação familiar e coloca os responsáveis em contato direto com o trabalho pedagógico.O projeto desenvolvido pela professora Eliete Correa Dias da Silva na Unidade Municipal de Educação Infantil Marli Sarney, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, poderia ter sido realizado sem ajuda.Mas contar com mães e pais para explicar as diferentes organizações familiares e o processo de escolha dos nomes dos pequenos foi proveitoso para todos."Aprendo coisas novas cada vez que participo de uma atividade.Vejo como é importante falar de perto com as crianças, abaixar-se e ouvir", diz Rúbia Carla Carvalho Cardoso, mãe de Maria Clara, de 5 anos.Funcionária pública, ela trabalha o dia inteiro,mas não perde uma oportunidade de se envolver. A professora também aprende muito.Hoje, ela conhece melhor o universo em que vive sua turma e elabora projetos de acordo com os interesses da comunidade.





Quando o diretor se torna um gestor
A verdadeira missão do líder da escola é conciliar as demandas burocráticas e pedagógicas - para garantir que os alunos progridam
Julia Priolli
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Julia Priolli');
Em que medida as condições sociais definem a escola? Até que ponto a escola pode transformar as condições sociais? As duas perguntas, que trazem perspectivas de ações diversas, costumam vir à tona quando se reflete sobre o papel da Educação na sociedade. E dar conta desse compromisso - ou, ao menos, tentar - sempre foi o grande desafio das escolas, embora, muitas vezes, as mazelas sociais funcionem como uma justificativa quando professores e diretores falham em suas tarefas. VISÃO CRÍTICA As famílias e a comunidade demandam da escola soluções para problemas sociais. Cabe ao gestor criar as condições para que a realidade seja trabalhada de forma crítica em sala de aula
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Na prática, quem responde diretamente por essa cobrança no dia-a-dia é o diretor escolar. "Existe uma grande expectativa de transformação social por meio da transformação pessoal que a Educação proporciona", diz Nora Rut Krawczyk, professora de Sociologia da Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Essa é a promessa da escola como instituição." Hoje, na avaliação de secretarias municipais e estaduais, institutos de formação, universidades e do próprio Ministério da Educação, o diretor é a figura central para promover esse ganho de qualidade de que a Educação brasileira tanto necessita. E, da mesma forma que seu papel é importante, sua rotina está cada vez mais complexa. Ele deve, cotidianamente, dar conta de diferentes "gestões": do espaço, dos recursos financeiros, de questões legais, da interação com a comunidade do entorno e com a Secretaria de Educação e das relações interpessoais (com funcionários, professores, famílias). Tudo isso, com um objetivo maior, que, se não é novo, ganhou uma importância que parecia um pouco esquecida nos últimos tempos: a aprendizagem dos alunos. Sim, a expectativa em relação à função vem mudando muito nas últimas décadas. Um dos momentos mais importantes dessa transformação ocorreu em meados dos anos 1980, quando a idéia de que o modelo de gestão dos sistemas públicos estava ultrapassado virou um consenso entre os educadores. A solução foi aproximar os serviços governamentais dos princípios da gestão empresarial, nos quais a busca pela eficiência é o maior valor. Desde então, de certa forma, a gestão escolar vem se adaptando para incorporar essa lógica à realidade das salas de aula. "O que se quer é formar vida inteligente dentro do organismo escolar", afirma Fernando Almeida, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ex-secretário da Educação da capital paulista. Por tudo isso, prossegue Almeida, o diretor, ou melhor, o gestor deve ter uma visão global da instituição e, ao mesmo tempo, focada nos alunos. "É ele quem cuida de todas as partes desse organismo vivo", justifica. Do lado de dentro Imagine uma escola em que o gestor seja visto como um chefe autoritário, pelo qual todos sentem mais temor do que respeito. Agora vislumbre um cenário apenas de cobrança de resultados e exigência do cumprimento de regras, sem a participação nas decisões conceituais e corriqueiras do dia-a-dia. E se esse mesmo diretor só se ocupar das questões burocráticas do cargo, deixando de lado tudo o que se refere às relações humanas, exceto o trato com alunos indisciplinados, encaminhados à sua sala como uma forma de punição? Talvez nem seja preciso ter tanta imaginação, já que muito dessa postura antiquada e praticamente alheia ao cotidiano educacional - na mais precisa acepção da palavra - ainda está bastante presente em algumas escolas brasileiras. VALORIZAÇÃO HUMANA A postura do diretor imprime marca às relações interpessoais no ambiente escolar. Professores, funcionários, pais e alunos ao mesmo tempo ensinam e têm coisas a aprender Embora um tanto extremo, o exemplo serve para mostrar que a forma como o gestor se posiciona na escola exerce grande influência sobre como se dão as relações interpessoais. O entendimento de alunos, pais, funcionários, professores e, sobretudo, dos próprios diretores sobre seus papéis na dinâmica escolar é decisivo para determinar a qualidade da instituição. E mais: se todos não enxergam que sua função deve, acima de tudo, colaborar para um processo educativo exitoso, é hora de procurar reverter esse quadro. "É preciso ressignificar o papel do diretor na escola e o da escola na comunidade", afirma Roberta Panico, coordenadora pedagógica da formação de gestores do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária. "A equipe tem de perceber que o gestor é o articulador de demandas e soluções para a aprendizagem das crianças. E que é essa a função social primordial de toda escola." Para a autora portuguesa Isabel Alarcão, não apenas os alunos, mas toda a comunidade deve se desenvolver no convívio escolar. Esse é um dos aspectos do conceito de "escolas reflexivas", criado por ela. "Elas qualificam não só os que nela estudam mas também os que nela ensinam ou apóiam estes ou aqueles", afirma a autora, em sua obra Escola Ref lexiva e Nova Racionalidade. "Ela gera conhecimento sobre si própria e, desse modo, contribui para o conhecimento sobre essa instituição chamada escola." DE OLHO NO ENTORNO A escola se insere num bairro e sua equipe deve conhecer a realidade local. Só assim é possível conhecer as necessidades das pessoas e adequar-se a elas Embora o grande foco do gestor deva ser a aprendizagem dos alunos, de forma alguma isso diminui a importância do coordenador pedagógico. A parceria entre os dois é uma das mais relevantes na construção de uma escola de qualidade. Para isso, eles precisam estar sempre muito afinados. A principal função do coordenador é cuidar da formação dos professores, um dos aspectos decisivos para implementar o projeto pedagógico decidido coletivamente pela comunidade escolar (processo que, como um todo, é de responsabilidade do gestor). Do lado de fora Nas últimas décadas, as demandas sociais em relação à escola têm aumentado substancialmente. O fenômeno se deve, principalmente, ao crescimento da violência urbana - muitas vezes, associada ao consumo e ao tráfico de drogas -, à falta de perspectivas profissionais e ao aumento da competitividade e do individualismo provocados pela globalização da economia. Cada vez mais, exige-se que a escola colabore para transformar esse cenário, perceptível do lado de fora de seus muros, tematizando-o em suas atividades diárias com o objetivo de melhorar o futuro dos estudantes. "Desenvolver uma visão crítica da realidade, trazendo-a para a sala de aula como uma reflexão propositiva, é algo essencial", diz Nora Rut, da Unicamp. "A instituição de ensino não é um local para esquecer a dura realidade, como alguns colegas acreditam." FOCO EDUCATIVO Lidar com a burocracia não pode ocupar todo o tempo do diretor. Além de conhecer leis e normas e saber gerir recursos, o foco principal deve ser a aprendizagem de crianças e adolescentesAssim, a equipe de professores precisa se organizar para promover discussões sobre temas locais e globais. Além disso, a postura da equipe e as situações vivenciadas na escola servem como base para abordar temas como cidadania, tolerância e respeito. "É o gestor quem imprime uma cara à instituição, quem retoma os projetos institucionais, que são permanentes e abrangem a escola como um todo", diz Márcia Cristina da Silva, formadora do Instituto Avisa Lá, de São Paulo. "É ele quem lembra a todos o que o grupo quer ser e que alunos pretende formar." Na teoria, tudo faz sentido. Mas o dia-a-dia da maioria é muito mais ocupado com a solução de emergências do que com o planejamento pedagógico. "Que diretor costuma ter muita dificuldade em dizer o que faz parte de sua rotina de trabalho, pois passa o dia resolvendo problemas. Mas nem tudo na escola é urgente. Ele pode determinar uma divisão de tempo, reservando um horário fixo para atender pais, para reuniões com o coordenador etc.", propõe Márcia Cristina. Vitor Henriques Paro, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, resume: "O diretor tem de ter visão pedagógica em todas as suas ações. As atividades burocráticas são antiadministrativas quando não estão relacionadas com o pedagógico. A finalidade de todo o trabalho é garantir que a relação entre ensino e aprendizagem se concretize". Quando isso ocorre, o diretor se transforma, efetivamente, num gestor.

Séculos de história
As revoluções Francesa e Industrial deram cara nova ao Velho Mundo, inclusive no que se refere ao acesso à Educação. No final do século 18, passou para o Estado a incumbência de educar os cidadãos, o que levou à grande ampliação do número de colégios na Europa nos dois séculos seguintes. "A escola substituiu a Igreja na formação dos jovens", afirma o educador português Rui Canário. "Por isso, tem um papel fundamental na consolidação das nações modernas". No Brasil, os jesuítas foram os principais responsáveis pelos primeiros passos da nossa Educação. Em 1759, os religiosos foram expulsos do país, deixando um legado de 17 colégios e "escolas de primeiras letras". Com um decreto do imperador Pedro II, em 1822, instituiu-se um modelo de ensino conhecido mais tarde como "aulas avulsas", em que um adulto se responsabilizava por crianças de diferentes idades e percursos. Essas "escolas" funcionavam na casa do próprio professor. Na época, os funcionários das poucas instituições de ensino não tinham formação pedagógica, já que a primeira Escola Normal brasileira só surgiu em 1835. "Os diretores eram, em geral, pessoas generosas, conhecidas por suas benemerências e, por isso, designadas para o cargo", explica Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. A primeira iniciativa visando a criação de uma rede de escolas se deu apenas durante o Estado Novo (1937-1945). O ensino formal, então, era pautado pelas Leis Orgânicas de Educação, que se aproximavam dos ideais fascistas, caros à ditadura de Getúlio Vargas. Nessa época, a proposta era qualificar a mão-de-obra nacional, acompanhando o ritmo de crescimento da indústria mundial e das novas profissões que nasciam. Com a Lei de Diretrizes e Bases de 1971, a Educação no Brasil foi estruturada em sistemas municipais, estaduais e federal. Durante a ditadura militar (1964-1985), cada diretor tinha também o dever de enquadrar o projeto educacional de sua escola ao ideal de potência nacional a que o país aspirava. Com a redemocratização, na década de 1980, o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, que congregava entidades sindicais, acadêmicas e da sociedade civil, foi uma das instituições mais atuantes para a inclusão, na Constituição federal, da determinação de que a escola brasileira tivesse como preceito a gestão democrática - vigente até hoje.





Pais que seguem de perto a rotina
As famílias querem, sim, participar da vida escolar das crianças. Veja como garantir o envolvimento desses parceiros indispensáveis para uma boa Educação
Roberta Bencini
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Roberta Bencini');



O valor do desenho infantil: Vera aprendeu na escola a entender as produções da filha Beatriz
A relação começa no dia em que a mãe, o pai ou um responsável entregam a criança pela primeira vez no portão da escola. Ciúme, desconfiança e culpa são os sentimentos que mais estão em jogo nesse momento.Afinal, historicamente a mãe é a responsável pelos cuidados e pela Educação dos filhos. Mas os tempos mudaram e hoje cabe à escola mostrar que por trás de portas e paredes coloridas existem profissionais competentes e um projeto bem planejado de aprendizagem para ser compartilhado entre todos.O problema surge quando os professores e a direção não estão preparados para essa tarefa (não quando a família passa a questionar o projeto pedagógico ou simplesmente torna- se ausente)."Cabe à escola começar esse movimento de aproximação e parceria. Ela tem de estar à disposição diariamente e não apenas em reuniões e horários determinados", explica a diretora da creche da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eliana Bhering, que estuda há mais de dez anos o envolvimento das famílias na Educação Infantil.
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Quando o diretor se torna gestor
Uma de suas conclusões é que, sobretudo em comunidades mais carentes, é comum uma postura passiva de gratidão, o que faz com que a escola tenha de tomar decisões sozinha. "Isso é muito grave. Muitas famílias ainda vêem o ambiente escolar apenas como um espaço de assistencialismo e, nesse contexto, a Educação é encarada como um donativo, um favor", afirma a pedagoga. Conceitos equivocados como esse emperram as relações se não forem rompidos pelos educadores. O importante é mostrar que o ensino público é um direito garantido desde a infância.Quanto mais os pais se envolvem e cobram isso, maior a possibilidade de garantirem um estudo de qualidade para suas crianças.Explicar o projeto

Sem hora marcada: Márcia conversa com o professor Eric sempre que precisa
Estudos realizados por diversos pesquisadores brasileiros, como Ana Luiza Smolka, da Universidade de Campinas, e Andrea Vieira Zanella, da Universidade Federal de Santa Catarina, mostram que os pais gostariam de saber mais sobre a rotina nas creches e pré-escolas e de receber ajuda para compreenderem melhor o desenvolvimento infantil.Efigênia Mendes Junqueira Koga,diretora da EMEI Rogélio Cabeza Castro, em Barueri, na Grande São Paulo, percebeu isso quando passou a ser freqüentemente colocada diante de uma questão recorrente:"Meu filho passa o tempo todo na escola apenas desenhando?"O projeto pedagógico da escola tem como eixo central a Arte – e estava claro que as famílias não estavam entendendo nada. "As professoras pediam para que eu incentivasse os trabalhos da minha filha, Beatriz, mas como fazer isso se eu só via rabiscos no papel?", lembra Vera Hengles. Mais do que expor slides com diversos esquemas sobre o processo de aprendizagem,o caminho encontrado pela diretora foi colocar os adultos em contato direto com a cultura artística. Há dois anos, uma oficina de arte é oferecida aos pais uma vez por semestre. "É um curso voltado para gente grande porque não há nada mais ridículo do que infantilizar alguém e pedir para ele se colocar no lugar da criança", destaca a professora Neuma Dias Cruz. Os trabalhos dos adultos são expostos no meio da escola junto com os dos pequenos, e a comunidade pode apreciar a exposição livremente. Hoje os pais, como Vera, enxergam muito além dos rabiscos.
Cuidados compartilhados
Por muito tempo, o papel das creches se restringiu aos cuidados com os bebês e as crianças pequenas. Hoje, além de cuidar, os professores têm de educar. Muitos pais ainda não compreendem bem isso e limitam sua parceria com a escola ao momento em que a chupeta e as fraldas precisam ser abandonadas ou quando os meninos apresentam algum problema de saúde.Em contrapartida, muitos educadores acreditam que os cuidados caibam só às famílias e interpretam a falta de interesse dos pais pela aprendizagem como uma omissão. “A creche e a préescola precisam ser vistas também como fontes de formação de pais”, explica Eliana Bhering, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.Cláudia Araújo, diretora da UMEI Marli Sarney, sabe que o mais importante é o bem-estar das crianças e não se faz de rogada quando tem de orientar um pai sobre a melhor maneira de alimentar seu filho ou sobre a data da próxima vacinação. Ela também não pensou duas vezes antes de organizar uma palestra com um pediatra quando houve uma infestação de piolhos na escola. “Sei que essa também é minha função”, diz.

Não à burocracia

Ajudando a ensinar: Rúbia (ao lado da filha Maria Clara) revela a história de sua família para a turma
Marcelo Cunha Bueno, diretor da Escola Estilo de Aprender, em São Paulo, é adepto da simplificação no relacionamento com as famílias. "Dispenso a linguagem do pedagogês, que só afasta os pais. Procuro as relações de troca", afirma ele. Outra preocupação constante é não estabelecer uma relação de prestação de contas ou de vigilância com eles. Na entrada e na saída, as portas estão sempre abertas aos responsáveis pelas crianças. Eles podem ir até a sala buscar os filhos e ver, ao vivo, as atividades realizadas durante a aula, além de bater um papo rápido com o professor. A proposta pedagógica é apresentada no contato diário com a estrutura escolar e a equipe pedagógica. Assim, é possível flagrar discussões, broncas, atividades e brincadeiras entre as crianças.Nada do que acontece dentro da instituição é velado. Em contrapartida, o envolvimento da família é obrado."No início do ano, eu aviso: 'Mãe, não venha aqui só para perguntar a cor do cocô de seu filho'. É importante saber tudo o que ele está aprendendo", reforça Marcelo (leia mais sobre a importância dos cuidados na creche e na préescola no quadro abaixo).
Manual para creche e pré-escola
Como formar famílias envolvidas em dez passos1 - Fale sobre o projeto pedagógico Facilite a linguagem e mostre, desde a matrícula, como a escola concebe a Educação e planeja o trabalho pedagógico. 2 - Mostre o valor da rotina Trate da organização dos espaços e do tempo: atividades diárias e projetos, currículo e segurança. 3 - Destaque as linguagens Fale da importância do brincar, da expressão artística, da fala e da escrita (conte como em que momento elas são desenvolvidas). 4 - Mostre como é a avaliação Explique como e quando ela é feita; por que fazer um portfólio e por que não comparar crianças. 5 - Explore os recursos e materiais pedagógicos Dê atenção ao papel dos brinquedos e dos livros no desenvolvimento motor e cognitivo. 6 - Estabeleça acordos de trabalho Mostre a função de cada funcionário e os planos de capacitação. Peça colaboração durante a lição de casa, na adaptação, no desmame e na hora de abandonar chupeta e fraldas. Cobre a presença em reuniões, cumprimento de horários, leitura diária da agenda e organização diária da mochilas. 7 - Planeje os encontros Promova reuniões bimestrais coletivas e individuais, além de palestras e oficinas sobre questões pedagógicas e de cuidados, e festas e passeios para criar laços de amizade.8 - Mantenha canais de comunicação Utilize a agenda, produza um jornal e um mural e envie e-mails. 9 - Esteja disponível Receba bem críticas e sugestões. Atenda sempre os telefonemas e fique presente na entrada e na saída. 10 - Utilize os saberes dos pais Planeje as inserções deles na aprendizagem com a equipe de professores. Mas não se esqueça de combinar tudo com antecedência. Consultoria: Eliana Bhering, da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Márcia Hindrikson Golz afirma que não troca esse tipo de organização por nada.Na saída do filho Gabriel Henrique, de 4 anos, ela sempre encontra tempo para trocar algumas palavras com o professor Eric Justino. Outro dia, descobriu que o garoto já escreve quase todas as letras do próprio nome."Sinto que faço parte dessa etapa tão importante da Educação dele. Dou sugestões e não me sinto uma intrusa", diz.Participação ativaUma maneira comum de atrair os pais para a escola é por meio dos projetos pedagógicos. Convidar um adulto para contar a história da família e do bairro e recordar as brincadeiras preferidas da infância valoriza a participação familiar e coloca os responsáveis em contato direto com o trabalho pedagógico.O projeto desenvolvido pela professora Eliete Correa Dias da Silva na Unidade Municipal de Educação Infantil Marli Sarney, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, poderia ter sido realizado sem ajuda.Mas contar com mães e pais para explicar as diferentes organizações familiares e o processo de escolha dos nomes dos pequenos foi proveitoso para todos."Aprendo coisas novas cada vez que participo de uma atividade.Vejo como é importante falar de perto com as crianças, abaixar-se e ouvir", diz Rúbia Carla Carvalho Cardoso, mãe de Maria Clara, de 5 anos.Funcionária pública, ela trabalha o dia inteiro,mas não perde uma oportunidade de se envolver. A professora também aprende muito.Hoje, ela conhece melhor o universo em que vive sua turma e elabora projetos de acordo com os interesses da comunidade.


É ele quem faz os craques brilharem
Com atuação voltada à aprendizagem e à formação dos educadores, o coordenador pedagógico afina o time de docentes da escola
Fernando José de Almeida
(novaescola@atleitor.com.br)
WriteAutor('Fernando José de Almeida');

"A função primordial do coordenadoré procurar formas de ajudar osprofessores de todas as disciplinasa avançar." Foto: Marcos Rosa
Não sei se você gosta de futebol. Eu sou um grande fã e, por mais que a ideia pareça um pouco gasta, resolvi iniciar este texto cometendo a imprudência de comparar a escola com uma equipe do esporte. Começo pelos jogadores - alunos, professores, funcionários - e pela torcida - os pais, a comunidade, todos os dirigentes da Educação e a sociedade, muitas camisas incentivando para que o gol da aprendizagem aconteça. Esse timaço não joga sozinho. Precisa de um presidente - no caso da escola, o diretor. Referência de reflexão e planejamento geral, é quem define as decisões mais gerais (o presidente negocia patrocínios, o diretor constrói o Projeto Político Pedagógico e estabelece parcerias), dialoga com a torcida (se o presidente recebe as organizadas, o diretor cuida da articulação com a comunidade) e zela pela agremiação (em seu "clube", o diretor faz a gestão administrativa, de aprendizagem, do espaço e da equipe).
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Mas um time só com presidente seria meio capenga. Equipes de sucesso exigem um profissional que não apenas mergulhe na história do esporte, mas que esteja antenado com as principais novidades na área. Que domine a arte e a ciência do jogo não apenas para chamar a equipe à unidade, estimule-a quando toma um gol inesperado - "Exatamente quando estávamos jogando tão bem!" - ou a modere quando algum jogador se exalta. No futebol, essa pessoa é o técnico. Na escola, é o coordenador pedagógico. Para ser bem exercida, a função de coordenador supõe um enorme conhecimento do conjunto da escola. Quem são os alunos? Quais turmas apresentam maior dificuldade (e em quais disciplinas)? Como trabalham os professores? Quais necessitam de maior auxílio na formação em serviço? O que os estudantes estão aprendendo - e o que estamos fazendo para ajudar aqueles que ainda não chegaram ao nível desejado? Como se vê, o foco desse profissional aponta fortemente para a gestão da aprendizagem e para a formação dos professores. Isso inclui dominar algumas coisas que nenhuma faculdade ensinou a ele: saber como o currículo foi desenhado, quando e como se articulam as áreas do saber e quais os modelos de avaliação disponíveis. Apesar de não ser uma tarefa fácil, ela é indispensável. É justamente o conhecimento das diferentes disciplinas, de seus objetivos, de suas propostas de recuperação, da bibliografia adotada e das metodologias propostas que conferirá a ele a respeitabilidade dos professores. Isso exige muito estudo. Vejo duas grandes perguntas a respeito da atuação do profissional. A primeira: o que, exatamente, ele tem de saber? Eu diria que a boa notícia é que ele não precisa entender de tudo. Sua função primordial é procurar formas de ajudar os professores de todas as disciplinas a avançar. A primeira edição da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR traz um excelente exemplo de como esse auxílio acontece na vida real. A reportagem Documentos em Ordem mostra como a coordenação pedagógica pode orientar a equipe de professores na produção e montagem de portfólios, registros, pautas de observação, diários de aula e notas, registros fundamentais para o trabalho de qualquer docente. A segunda pergunta: como (e onde) conseguir esses conhecimentos? Os caminhos são diversos: uma boa visita às livrarias da cidade, uma exploração atenciosa do acervo pedagógico na biblioteca do bairro, programas de formação oferecidos pelas Secretarias e outras instituições e a participação em seminários e congressos - com o compromisso evidente de socializar as informações principais para os demais profissionais da escola. Assim, o coordenador vai constituindo sua figura como um parceiro e um orientador do trabalho docente. Para isso tudo, o coordenador tem meios de atuação difusos: a presença nas atividades pedagógicas que alunos e professores promovem, a conversa individual com os docentes e a direção, as apresentações de trabalhos, as organizações de estudos do meio, as visitas e as festas, o material que ele torna disponível na sala dos professores, os avisos que deixa no quadro e até mesmo a sala do cafezinho. Mas ele conta ainda com um momento privilegiado. É o chamado Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), período de formação em serviço durante o qual seu "jeitão" aparece e se consolida. Ali, o coordenador desenvolve seu máximo trabalho: fazer com que os professores, os verdadeiros craques do time escolar, brilhem (porque são as estrelas e, afinal, cabe a eles preparar as aulas, trabalhar duramente com centenas e centenas de alunos, corrigir provas e trabalhos, extenuar a voz para ser ouvido e ainda readequar suas aulas ao seu plano inicial). No HTPC, o coordenador ilumina o trabalho dos docentes, colocando-os como o centro do processo de ensino e aprendizagem: o que cada um deles faz de melhor? O que precisa aprofundar, estudar mais, trocar com os colegas? É possível, por exemplo, levar para esse horário uma prova tão boa, concebida por um dos integrantes da equipe, que mereça ser estudada pelos colegas. Atitudes assim põem em relevo a liderança do coordenador pedagógico. Não se trata, aqui, de liderança como imposição, mas como prestação de serviço, que junta as partes dispersas, evidencia as coisas boas, participa do dia-a-dia, avalia rumos, dá ideias com base nas necessidades, estimula práticas criativas de alunos e professores e apoia o diretor para cumprir sua tarefa de construir caminhos para a escola junto com a comunidade. Para retornar à metáfora futebolística, ele é um dos que mais ajudam a bola a correr bem redonda no gramado. Como o técnico, pode até não entrar em campo nem levantar o troféu, mas, sem ele, não existe time campeão.
Fernando José de Almeida
É filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e vice-presidente da TV Cultura - Fundação Padre Anchieta.
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Comentários (12)
Gonçalo Claro dos Santos Junior - Quanto a matéria, achei D+ e muito produtiva e de muita orientação para quem quer ser vencedor em tudo que faz, pois trabalhar em equipe faz a diferença e leva ao sucesso toda a equipe participante.....
Gonçalo Claro dos Santos Junior - Professor Coordenador Pedagógico Marcos Rosa, gostaria de que o senhor pudesse me ajudar na orientação de coordenador pedagógico, pois estou a frente de uma escola estadual no interior,exatamente na cidade de Andradina-SP como prof.coordenador pedagógico do ensino médio, e gostaria muito que o senhor me desse algumas dicas para o mesmoou dicas de como atiar como tal e mais ter sucesso nesse desafio. Desde já Agradeço .. Prof.Gonçalo Jr....
Jósé Raimundo Prado - Gostei e firmo o meu apoio a esse sábio artigo que deveria ser lido por todos os coodenadores das diversas escolas principalmente as pulblicas que tem apadrinhamento político, para que vejam q realmente eles tem um papel importante em uma unidade escolar e q realmente ele assuma o seu papel ou se não poder deixe o cargo. PARABÉNS!!!! Ao grande filósofo Fernando José de Almeida.




Rui Canário fala sobre como a escola deve transformar problemas em soluções
Para educador português, as dificuldades devem se transformar em ações educativas
Paula Nadal
(gestao@atleitor.com.br)
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RUI CANÁRIO "Os principais recursos da Educação são as pessoas, os saberes e as experiênciasmobilizadoras. Com isso, não há escolas pobres." Foto: Alvaro Isidoro/Cityfiles
O fenômeno da globalização, tão conhecido no universo da Economia, também atinge a Educação. A velocidade das informações e dos transportes permite que os países troquem produtos, serviços e culturas. Contudo, nessa via aberta na qual tudo isso é intensamente compartilhado, também passam problemas e crises, como a do ensino, presente em vários países. "Independentemente das condições econômicas e sociais, a ineficiência da escola é geral no mundo todo e se traduz pelos altos níveis de analfabetismo funcional, pela proletarização do trabalho dos professores e pelo descaso crescente dos alunos em relação aos estudos e dos docentes quanto ao ensino", afirma Rui Canário, doutor em Ciências da Educação e professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde faz pesquisas nas áreas de Sociologia e de formação de jovens e adultos.
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Não raro, as consequências da crise, como o desinteresse de alunos e professores e a falta de condições ideais de trabalho, são apontadas como barreiras intransponíveis para ter um ensino de qualidade. Muitos profissionais da Educação se deixam abater por elas. Outros, ao contrário, usam as dificuldades como fonte para a busca de soluções. "Todas as escolas têm a possibilidade de atingir bons resultados, mesmo partindo de pontos diferentes e adversos. Isso porque elas, como qualquer sistema social, podem se autorregular." A propriedade de gerir os recursos disponíveis para atingir os fins desejados teve origem no campo da Biologia, no estudo aprofundado dos sistemas vivos, e foi adaptada, nos anos 1960 e 70, para organizações sociais. Nesta entrevista a NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR, Canário explica como essa capacidade pode ser usada na Educação. Como uma teoria criada na Biologia pode ajudar a Educação? RUI CANÁRIO O biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy (1901-1972) percebeu que os sistemas vivos conseguem "aprender" a administrar os recursos disponíveis para atingir os resultados pretendidos. Alguns exemplos: se uma pessoa perde a visão, com o tempo ela adquire maior acuidade auditiva. Outra que perca os movimentos da mão direita passa a fazer tudo com a esquerda. Sabemos hoje que determinadas lesões no cérebro humano são superáveis por uma nova reconfiguração das diferentes áreas ou pela ativação de zonas menos utilizadas. À capacidade de se autorregular foi dada o nome de equifinalidade. Bertalanffy não parou por aí e percebeu que essa propriedade também está presente nos sistemas sociais - inclusive na escola. Ou seja, é possível que cada uma encontre o próprio caminho desde que as diversidades e os possíveis problemas ou crises sejam usados como estímulo para criar soluções inovadoras. A ideia, então, é transformar problemas em ação e proposta educativas? CANÁRIO Com certeza. Quer um exemplo? Muitos afirmam que o descaso dos alunos impede a escola de ser eficiente. Em vez de se conformar, que tal incentivar a criação de projetos que possam ser desenvolvidos pelos educandos, tratando-os como capazes de produzir e não como aprendizes que só têm a receber? É difícil não haver engajamento quando as pessoas se tornam sujeitos e atribuem um sentido positivo ao trabalho que realizam. O que parecia um obstáculo - a falta de envolvimento - virou um caminho para atingir os objetivos. Muitos educadores apontam também o descaso das famílias e do próprio corpo docente. CANÁRIO Eu mesmo participei de algumas iniciativas de intervenção em turmas das primeiras séries e um dos entraves era justamente o distanciamento dos atores das metas almejadas. E isso acontecia com os alunos, os familiares - que estavam completamente fora do processo de Educação dos filhos - e os professores, que se diziam desmotivados. Os elementos para lidar positivamente com públicos pouco comprometidos foram sintetizados em três aspectos: a implantação de uma Pedagogia que incentivou o estudante a se tornar produtor de saber, a elaboração de planos para aproximar as famílias, a comunidade e outras instituições da vida escolar e a adoção do trabalho participativo e em equipe para os docentes, permitindo a construção de práticas sobre as quais há uma reflexão permanente. E quando o que emperra as ações é a falta de recursos? CANÁRIO Os principais recursos da Educação são as pessoas, os saberes e as experiências de mobilização. Com isso, não há escolas pobres. Citando o grande poeta da língua portuguesa Luís de Camões (1524-1580), "a necessidade aguça o engenho". Sem fazer nenhuma apologia da pobreza, é das situações de necessidade que frequentemente surgem, em zonas marginalizadas e periféricas do sistema educativo, as formas mais criativas de identificar e produzir recursos e de construir soluções inovadoras. Em Portugal, isso ficou muito claro com a Escola da Ponte e no projeto das escolas rurais. Quais as soluções encontradas pela Escola da Ponte e pelas escolas rurais portuguesas para transformar as necessidades em incentivo? CANÁRIO No caso da Escola da Ponte, a organização democrática com a participação dos alunos permitiu que eles próprios fossem o recurso para superar os problemas de indisciplina. Já o projeto de intervenção nas pequenas escolas rurais começou para resolver um problema de isolamento dos professores. Rapidamente se percebeu que esse isolamento dizia respeito não apenas às escolas mas também às próprias comunidades. Assim as primeiras se transformaram em polos de animação comunitária, instituindo, por exemplo, processos de trabalho pedagógico que envolviam diretamente as crianças e os idosos dos povoados. Então, para promover a escola e dar visibilidade a ela, o gestor precisa reconhecer a diversidade, ser inovador nas propostas e, ao mesmo tempo, otimizar a utilização de recursos? CANÁRIO As escolas não são governáveis por controle remoto. Cada uma vive uma realidade única, e isso em diversos aspectos, a começar pela localização, o que faz com que elas atendam a públicos diferenciados. Os espaços e os equipamentos disponíveis variam muito e, claro, as equipes pedagógicas têm distintos perfis. Portanto, para bem cumprir suas funções, as escolas precisam desenvolver e utilizar da melhor maneira possível o potencial criativo do diretor, do coordenador pedagógico, do corpo docente e dos alunos para definir metas, identificar problemas e mobilizar recursos. Se todos juntos traçarem uma estratégia, ficará mais fácil construir uma identidade única e alcançar melhores resultados. É nesse sentido que se pode dizer que cada escola tem uma "cara"? CANÁRIO Na verdade, é esse processo que fundamenta a pertinência de cada estabelecimento de ensino em orientar-se para um projeto educativo próprio, em que os professores se formam na ação, por meio de um desempenho profissional que cada vez é mais claro e valorizado pela própria equipe. É o que eu chamo de formação de professores centrada na escola. Para que isso seja concretizado, é essencial haver lideranças fortes, apoiadas no trabalho docente colaborativo. Essas ações ajudam também a reverter o quadro de proletarização do trabalho dos professores, tornando-os protagonistas de todo o processo de ensino. De que maneira o gestor deve conduzir a construção de um projeto educacional e pedagógico específico para a escola que dirige? CANÁRIO Ele deve tirar o máximo partido da diversidade do sistema escolar. Do ponto de vista social, cultural e étnico, os públicos escolares são cada vez mais heterogêneos, e isso não é somente inevitável como também desejável. Jamais se deve encarar isso como um obstáculo para que a escola tenha um bom desempenho. É a diversidade que permite a contextualização de práticas educativas - ação imprescindível para que cada um dos envolvidos encontre um sentido positivo para o exercício do trabalho intelectual de aprender. O princípio da equifinalidade - a autorregulação que definimos anteriormente e trouxemos para o campo da Educação - encara as diferenças entre as instituições como uma riqueza e uma fonte de inspiração para a busca de novos caminhos. Como promover uma formação centrada na escola? CANÁRIO O ponto de partida é a realização de diagnósticos e a identificação de problemas para, com base nisso, tentar encontrar soluções, testá-las e avaliá-las. Parte-se do princípio de que a atividade dos professores tem uma dimensão coletiva, o que não é o mesmo que a soma das ações individuais. O oposto da formação centrada na escola é aquela basicamente teórica e desvinculada da sala de aula, em que o alvo é a capacitação individual de cada um com base nas lacunas que lhe são identificadas. Nessa perspectiva, a prática dos docentes e o funcionamento da instituição têm de ser modificados ao mesmo tempo. Quando o professor trabalha com projetos, ele promove mudanças em várias frentes, como na organização da turma e na maneira de ele próprio exercer sua função e na de os alunos participarem das aulas e das atividades. Mas isso é possível quando existe um sistema educativo centralizado? CANÁRIO A organização escolar deve funcionar como mediadora entre a administração pública e os professores, isso porque cada uma constitui um sistema de ação coletiva, com culturas e contextos que interferem na ação dos educadores. Por isso, tem de haver uma apropriação e uma reconfiguração própria das orientações recebidas do exterior. É nesse sentido que a escola funciona, em termos organizacionais, como um filtro que estabelece uma mediação entre as orientações gerais vindas de cima e as práticas efetivas em sala de aula. A decisão sobre essas adaptações precisa ser feita coletivamente? CANÁRIO Com certeza e, quanto mais participação existir, melhor. A gestão não tem de forçosamente ser assegurada por apenas uma pessoa. Ela pode ser feita de forma colegiada. Em Portugal, logo após a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, os diretores dos estabelecimentos de ensino, até então nomeados pelo governo, foram substituídos por comissões eleitas pela comunidade dos educadores, instituindo assim um sistema participativo de autogestão. Para que a escola não funcione segundo uma lógica meramente bancária - expressão usada por Paulo Freire (1921-1997) -, é fundamental que ela seja permeada por princípios democráticos, em que os educandos aprendem sobre cidadania ao exercê-la. É a capacidade de mobilização que permite fazer de cada escola um projeto. E é isso que se espera de uma liderança. Quais são as competências profissionais que precisam ser desenvolvidas pela equipe pedagógica e estimuladas pelos gestores? CANÁRIO A formação dos professores certamente corresponde a um processo de socialização que se verifica no próprio exercício da profissão. Os docentes aprendem como trabalhar nas escolas, com base na experiência que tiveram como alunos e por meio de um processo de socialização com os pares. É importante que nas rotinas escolares sejam criados espaços que permitam realizar, de forma consciente, esse processo de aprendizagem. A ação das lideranças é decisiva para que cada escola se transforme numa organização qualificante para os profissionais que lá trabalham. Nesse contexto, é possível vislumbrar como poderia ser uma escola no futuro próximo? CANÁRIO O grande problema hoje não é só saber como será a escola do futuro, mas saber se há um futuro para a escola. O que vai acontecer não pode ser adivinhado, mas problematizado. Há várias perspectivas possíveis. A nossa capacidade de influenciar o que será daqui para diante depende do modo como agimos no presente. Muitas das críticas à escolarização, particularmente as que foram desenvolvidas pelo filósofo austríaco Ivan Illich (1926-2002), que defendia uma sociedade sem instituições oficiais de ensino, aparecem hoje como bastante realistas. Em muitos aspectos, a escola deixou de ser a solução para fazer parte do problema. Hoje, não é previsível haver um cenário de desescolarização, mas é possível verificar a crescente importância de outras modalidades educativas e de aprendizagem. A Educação transcende em muito as fronteiras da escola e o modelo ali desenvolvido só terá futuro se ele tornar-se poroso e deixar-se contaminar por diferentes formas educativas.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA A Escola Tem Futuro? Das Promessas às Incertezas, Rui Canário, 160 págs., Ed. Artmed,
www.artmed.com.br, tel. 0800-703-3444, 40 reais O Que É a Escola? Um Olhar Sociológico, Rui Canário, 208 págs., Ed. Porto, www.portoeditora.pt, tel. 00 (351) 2-4099-023, 20,70 euros


Você tem tempo para tudo?
Gestor que investe em planejamento evita ser escravo da burocracia e diminui os incêndios da rotina escolar
Daniela Almeida
(gestao@atleitor.com.br)
WriteAutorGestao('Daniela Almeida');


Clique na imagem para fazer o teste e saiba qual é o seu perfil de diretor

Você consegue cumprir sua agenda ao mesmo tempo em que resolve os inúmeros imprevistos que aparecem diariamente? No dia-a-dia, você prefere cuidar pessoalmente da documentação da escola e, por isso, não encontra espaço para acompanhar a aprendizagem dos alunos? Ninguém tem dúvida de que o ideal seria ter tempo para tudo sem estresse nem sobressaltos. Mas como conseguir isso? Se você acredita que o dia deveria ter mais de 24 horas para dar conta de tudo o que o cargo de gestor exige,
faça o teste exclusivo de NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR sobre administração do tempo. Ele vai ajudá-lo a refletir sobre como você organiza a rotina.
Administrar o tempo não é fácil, principalmente para quem ocupa uma função de liderança, em que é preciso dispensar atenção a vários assuntos ao mesmo tempo. "Planejar as tarefas é mais do que distribuí-las em horários. É ter clareza sobre sua real importância", afirma Débora Dias Gomes, pedagoga e formadora de profissionais da Educação em Gestão Estratégica, do Rio de Janeiro. Classificar as atividades, separando as que são fundamentais (e só você pode fazer) das que podem ser delegadas, é um caminho para ajudar a hierarquizar a agenda.
Mais sobre o papel do diretor
Quando o diretor se torna um gestor
O olhar atento do diretor
Existe um critério básico quando se trata de gestão escolar que pode facilitar a decisão: tudo o que está relacionado à aprendizagem dos alunos e ao planejamento pedagógico precisa de mais dedicação. As outras demandas geralmente podem ser delegadas a auxiliares (mas devem ser acompanhadas, é claro). Exemplo: manter a papelada em dia é importante. Porém, se você se exceder na dedicação aos documentos, provavelmente sobrará pouco tempo para observar o movimento da escola e conversar com coordenadores, professores e alunos – aspectos que são mais relevantes para garantir um ensino de qualidade. Outra dica: quanto mais tempo for investido em planejamento, prevenção, manutenção dos espaços e equipamentos e no projeto da escola, menos incêndios você terá para apagar diariamente. Afinal, canos de água estouram, mas podem estourar menos se houver a revisão periódica das instalações hidráulicas. Professores faltam, mas até isso pode ser previsto, e um plano B na gaveta ajuda a diminuir o fator surpresa.
Uma agenda ideal
Com isso, é fácil perceber a complexidade da gestão do tempo no cotidiano escolar. Por isso, pegue os resultados do
teste realizado e analise: • Se você passa a maior parte do dia fazendo as atividades ligadas ao projeto de escola, está no caminho certo e pode ser considerado um diretor focado na aprendizagem dos alunos. Afinal, as emergências podem ser minimizadas ou evitadas quando o projeto pedagógico é bem elaborado, o corpo docente discute o trabalho regular e coletivamente e os funcionários se sentem parte da equipe e atuam para que os alunos aprendam dentro e fora da sala de aula. • As tarefas previamente agendadas, ligadas à rotina escolar, demandam igualmente um bom espaço na agenda (como as reuniões e a observação da escola), mas estão dentro do que já está planejado. Porém aí também estão as atividades burocráticas e a organização de festas e eventos, que precisam de acompanhamento, mas podem ser delegadas. Caso elas estejam consumindo mais da metade de sua jornada, cuidado para não se tornar um burocrata. Flexibilize e delegue mais. • Com o planejamento bem feito e a rotina em andamento, certamente as urgências acontecerão com menos frequência. O sinal vermelho aparece se você começar a dedicar mais de 10% do tempo a coisas que deveriam ter sido planejadas. Nesse caso, cuidado! Pode estar prevalecendo o bombeiro no lugar do gestor! • Finalmente, é preciso levar em consideração tudo o que não foi previsto, para repensar o projeto de escola (problemas de aprendizagem que indicam a necessidade de revisão do plano de formação de professores, materiais didáticos que não foram suficientes etc.). Então, se qualquer coisa der errado, pare, replaneje e elabore novos planos de ação.
O bombeiro "Logo na entrada dos alunos, um pai me abordou, querendo conversar sobre as dificuldades que estava tendo em casa com os filhos. A conversa só acabou quando um dos professores apareceu desesperado porque o papel da impressora havia acabado na sala de informática. Ordenei a compra do material. Mas aí veio a cozinheira, dizendo que faltava um ingrediente para a merenda. Fui até a cantina e montei um novo cardápio. Quando cheguei à minha sala para ver a agenda, um aluno se machucou na quadra. Levei-o ao posto de saúde e voltei no meio da tarde para assinar alguns papéis, mas um tumulto numa sala de aula me fez sair correndo. O professor estava desesperado, porém logo bateu o sinal e todos foram embora." Comentários Ter flexibilidade é uma qualidade desejável em qualquer gestor, mas quem vive apagando incêndios na escola raramente se dedica a pensar na melhoria dos processos e no desenvolvimento das pessoas. Assim, a instituição fica lançada à própria sorte, pois ele apenas reage aos fatos, em vez de comandá-los. "Como está sempre correndo para diminuir o prejuízo, o diretor-bombeiro não consegue tomar decisões que resolvam definitivamente os problemas", diz o consultor pedagógico Carlos Luiz Gonçalves, de São Paulo. O resultado de tanta iniciativa e pouca conclusão dos processos é a eterna sensação de terminar o dia sem nada ter finalizado. Ou seja, frustração. Para escapar desse ciclo vicioso, é preciso antecipar as situações, observar as habilidades dos diversos membros da equipe, formá-los – afinal, são eles que vão ajudar na gestão – e delegar.
O burocrata"Assim que cheguei à escola, pedi à secretária os formulários que precisavam ser preenchidos. Avisei o coordenador pedagógico que não iria à reunião bimestral para discutir a aprendizagem dos alunos, mas solicitei a ata do encontro para saber das decisões tomadas. Acho importante ter registro de tudo. No meio da manhã, chegou uma mãe querendo conversar, mas pedi para ela voltar no dia seguinte, com hora marcada. Saí para uma reunião na Secretaria de Educação. À tarde, fiz a revisão da documentação para a prestação de contas e o levantamento do material a ser comprado no próximo mês. No fim do dia, atendi um pai que trouxe a papelada do filho para a matrícula."Comentários A organização que falta ao bombeiro sobra ao burocrata. Esse gestor tem a tendência de focar a atuação na arrumação de documentos, na padronização das rotinas e na exigência excessiva de registros e regras – elementos que, equilibrados, são importantes no dia-a-dia escolar. O problema é que ele tem dificuldades em lidar com as situações que pedem jogo de cintura. "O burocrata tende a gostar mais de papéis do que de pessoas, por isso decide tudo sozinho. Se ouvisse a equipe, teria mais subsídios para tomar decisões", alerta Débora Dias Gomes. Praticar a gestão participativa, flexibilizar as regras, descentralizar os planos operacionais e deixá-los sob o comando de outros responsáveis, concentrando-se em análises institucionais e no planejamento estratégico da escola, são maneiras de não cair na armadilha da burocracia.
O focado "Logo às 7 horas, eu estava no portão para receber os alunos e conversar com eles. Já na minha sala, revi a agenda e replanejei as tarefas pendentes. Conferi e assinei alguns documentos e fui para a reunião com os professores e a coordenação pedagógica. Uma funcionária me avisou que havia um problema de indisciplina, sugeriu um encaminhamento e decidimos como solucionar a questão. Depois do almoço, fui informado de que um professor havia faltado. Conversei com o coordenador e colocamos em prática o remanejamento que havíamos combinado para casos como esse. O imprevisto atrasou um pouco a reunião para revisão do projeto pedagógico, mas no fim deu tudo certo."Comentários Uma mistura balanceada entre a flexibilidade do bombeiro e a organização do burocrata. Assim é o gestor focado. Ele alia o dinamismo de um ao formalismo do outro, enxerga o contexto, organiza o tempo e o espaço, exerce a liderança participativa, acredita nas pessoas da equipe, cria sistemas de relacionamento com a comunidade, mantém comunicação com os pais, estrutura processos e garante o bom ambiente de trabalho. Ele consegue fazer tudo isso porque se ocupa da formação e do desenvolvimento da equipe, facilitando o aparecimento de outras lideranças. Para manter a boa gestão do tempo, elabora instrumentos que ajudam no automonitoramento, como planilhas, cronogramas e agendas. E tudo isso de olho no objetivo principal: assegurar o processo de ensino e aprendizagem.
Quer saber mais?
CONTATOSCarlos Luiz Gonçalves,
carlosluiz.consultor@hotmail.com Débora Dias Gomes, ddg@esileducacional.com.br
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Sulemi Neves Coaxi Silva Santos - Excelente teste. É uma maneira bem prática de visualizarmos a dinâmica de gestão que estamos adotando. Dessa forma percebemos o quê em nossa prática diária e semanal está determinando diretamente os resultados obtidos. O teste nos dá um sinal de alerta no ponto exato em que precisamos melhorar, com urgência e as áreas em que estamos bem. Assim podemos buscar o melhor equilíbrio na gestão. Sulemi Coaxi - Sapeaçu-Ba
mariana soares de almeida oliveira - Não tenho tempo para tudo, mas gostaria de fazer um teste específico para coordenador, ok.!!!
katia cristina silva - adorei!! percebi que minha diretora esta trabalhando muito... gostaria que fizesse um para coordenadoras tambem



Rotatividade de professores: o que fazer para que a escola não sofra com esse problema
Seis sugestões para que a rotatividade não prejudique o andamento da escola e a aprendizagem dos alunos
Iracy Paulina
(gestao@atleitor.com.br)
WriteAutorGestao('Iracy Paulina');

INCLUIR NAS REUNIÕES O professor recém-chegado começará a se sentir parte da equipe se for incluído nos encontros de formação. Ilustrações Thiago Cruz
É uma realidade da Educação pública brasileira: o quadro docente está sempre mudando. Alguns professores ficam pouco tempo na escola porque podem pedir transferência para outra unidade e outros passam pelas salas de aula para substituir colegas que estão de licença. Mas essa rotatividade está longe de ser positiva. Quem fica apenas alguns meses com uma turma não cria vínculos com os alunos – o que compromete a aprendizagem pela falta de interação e continuidade no trabalho pedagógico – nem com a comunidade, prejudicando assim a construção da identidade escolar. "Ao ingressar na rede, o docente ocupa a vaga que está disponível, que, em geral, é numa escola longe de casa. Com o passar do tempo, graças aos concursos de remoção, ele pode escolher uma mais perto de onde mora. É um direito que ele tem", justifica Elisane Fank, coordenadora de gestão escolar da Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
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O ideal, porém, seria as redes exigirem uma jornada de dedicação exclusiva. "Índices elevados de rotatividade transformam a escola num espaço sem alma, por onde circulam pessoas sem relação com a coletividade", diz Maria Helena Guimarães de Castro, professora da Universidade de Campinas, que enfrentou esse problema quando foi secretária de Educação do Estado de São Paulo (conheça algumas medidas implementadas na rede paulista no quadro da abaixo). O contexto é complexo e difícil de mudar. Porém a escola não pode partir do zero toda vez que chega um novo membro. A seguir, algumas medidas que você, como gestor, tem condições de implementar para que o entra-e-sai de docentes não prejudique o bom andamento de sua equipe.
APRESENTAR E ACOLHER A hora do cafezinho e as reuniões de pais são bons momentos para integrar o novo docente com a equipe.
1. Apresentar e acolher O novo professor precisa ser acolhido desde o primeiro dia. Apresente-o aos colegas, aos futuros alunos e aos pais para que ele comece a se sentir membro da comunidade escolar. Analise quais espaços você pode abrir para que ele possa contar as experiências profissionais que teve anteriormente.
2. Compartilhar o projeto O projeto pedagógico é a cara da escola. Por isso, forneça uma cópia do documento ao novato. A EE Rio Branco, em Curitiba, propõe que os professores que chegam mergulhem no documento, leiam tudo e depois conversem com os gestores. "Com isso, eles têm uma noção de como somos e estamos estruturados e podem tirar dúvidas e dar opiniões e sugestões", afirma a diretora, Ana Claudia Michelin. Ela conta ainda com a Semana Pedagógica, que é realizada no início de cada semestre. São três dias de formação que a Secretaria Estadual da Educação promove em cada unidade da rede. "Começamos discutindo os projetos e depois trabalhamos especificamente a implementação das diretrizes curriculares estaduais para todas as disciplinas", explica Elisane Fank, da Secretaria de Educação do Paraná. "Assim, fortalecemos os princípios comuns que movem todas as escolas e procuramos minimizar o impacto da remoção do professor de uma escola para outra", explica ela. 3. Incluir na formação Chame sempre o recém-chegado para participar das reuniões de planejamento e formação. Essa é uma das maneiras de ele se aprofundar nas diretrizes do projeto pedagógico e no currículo. "Os encontros pedagógicos, nesse momento inicial, são um espaço privilegiado para a integração, e a formação continuada funciona como uma mola propulsora de inserção do novo colega", afirma Elisabete Monteiro, coordenadora pedagógica da EM Barbosa Romeu, em Salvador. Essa foi uma das estratégias usadas por ela depois que um concurso para diretor provocou a troca de 60% de sua equipe docente. Para amenizar o impacto das mudanças na aprendizagem, uma das providências foi intensificar o trabalho de formação continuada: as reuniões por segmento de ensino, antes mensais, passaram a ser semanais.
SOCIALIZAR AS PRÁTICAS Quem chega sempre tem o que ensinar e o que aprender, e quem ganha com isso é a aprendizagem.
4. Socializar as práticas Dos 60 professores da EE Rio Branco, 40 são fixos e 20 são os chamados volantes (estão sempre mudando). "É sempre um desafio trabalhar com uma equipe praticamente nova todo ano", diz a diretora, Ana Claudia Michelin. "Temos nossos planejamentos e estratégias de ensino e quem chega também traz os seus. Então estimulamos a troca de informações e a análise do material. Geralmente, aparecem ideias para melhorar o que já estava traçado", afirma. O mesmo ocorre na EE Doutor Luis Arrobas Martins, em São Paulo, que atende o primeiro ciclo do Ensino Fundamental e tem 24 professores. Desse total, 17 são concursados. Os outros sete mudam ano após ano. "Estimulamos o grupo de professores mais antigos a trocar experiências com os novos", diz a diretora, Aparecida Deise de Almeida Wakim Tannous. 5. Formar pares Na organização e distribuição das turmas, procure estabelecer um trabalho de parceria entre os professores antigos e os novos. Essa estratégia foi usada na EM Barbosa Romeu e deu certo. Ao colocar um profissional mais experiente e conhecedor da proposta da escola ao lado de um novato em turmas da mesma série, ambos podem compartilhar o planejamento, os planos de aula, os projetos e as sequências didáticas – e um pode ajudar o outro quando as dúvidas e dificuldades aparecem.
FORNECER OS DOCUMENTOS Depois das boas-vindas, o novato pode conhecer os registros dos colegas para entender melhor a escola.
6. Fornecer os documentos As escritas profissionais funcionam como um valioso instrumento. Ofereça-as para que o novo docente as consulte. Relatórios, diários, planos de aula, projetos e sequências didáticas – assim como registros do desempenho dos alunos em anos anteriores, portfólios e mapas de classe – devem fazer parte desse arsenal de pesquisa, que possibilita ao novo professor identificar o que os alunos já sabem e os mecanismos de avaliação adotados pela escola. Nesse caso, é necessário que o coordenador tenha os registros – construídos, discutidos, compartilhados e revisitados coletivamente – sempre atualizados e organizados.

Medidas paliativas
Como secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro constatou uma rotatividade de 40% na rede estadual. Como foi possível diminuir o problema? Em 2008, um decreto determinou que um docente só pode pedir remoção depois de ficar 200 dias numa escola, o que garante que ele permaneça pelo menos um ano letivo no mesmo lugar, o mínimo para desenvolver um trabalho efetivo. Os concursos foram regionalizados para evitar que um docente que more no norte do estado assuma uma vaga em escola da região sul e, em seguida, solicite remoção para sua cidade. Como a rotatividade pode ser evitada? A única saída é implantar carreiras com regime de 40 horas e dedicação exclusiva. Professores fixos numa mesma escola têm tempo para fazer a formação em serviço, atender os alunos fora da sala de aula, desenvolver projetos pedagógicos consistentes, discutir com os pares e conhecer melhor os pais e toda a comunidade.
Quer saber mais?
CONTATOSEE Doutor Luis Arrobas Martins, R. João Elias, 80, 04726-070, São Paulo, SP, tel. (11) 5641-4739 EE Rio Branco, R. Bispo Dom José, 2426, 80440-080, Curitiba, PR, tel. (41) 3224-1812 EM Barbosa Romeo, R. São Paulo, s/nº, 41500-140, Salvador, BA, tel. (71) 3611-7205
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Raquel Franzim - Sou coordenadora de um CEI que tem a rotatividade tanto de professores, como da Direção uma "marca" em sua história... A rotatividade geralmente é vista como um problema, quando não é bem conduzida. Fortalecer, sem endurecer o grupo estável e contextualizar o percurso da Escola, acolhendo quem chega é um desafio e tanto! Por outro lado, a rotatividade tem um aspecto mais amplo e que precisa ser discutido no plano das políticas públicas. O profissional da educação precisa perceber que vale a pena trabalhar em determinados lugares, que existem contrapartidas financeiras, formativas, profissionais... Raquel
José Jarisvan Silva - Faço exatamente isso na EMEIF João Correia Lima. Está dando certo!
Rosimeire Gonçalves Braga Oliveira - Adorei a reportagem e vou indicar a leitura para minha diretora,pois o que foi relatado acontece muito e principalmente no meu ambiente escolar onde passam muitos professores e comigo acontece o contrário.Trabalho nesta escola faz quatorze anos e vejo isto como um ponto positivo,pois criei um vínculo com todos,desde os colegas de trabalho até os alunos,chegando até a comunidade.
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