segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Mundo Impossível

Abriu os olhos e não conseguiu acreditar no que via. Ele olhava para seu quarto, estava destruído. Carlos era um cidadão comum, fazia faculdade de engenharia o dia todo, por isso não tinha nada de tanto valor no seu medíocre apartamento alugado. Por que o roubaram? Perguntava-se. Ficou três minutos sentado em sua cama para avaliar o estrago. Estava em choque.

Levantou-se, caminhou pelo quarto, sua televisão parecia ter sido desmontada, restaram apenas os fios e a tela espatifada ao chão. "Idiotas!", resmungou, “pelo menos deviam ter levado-a inteira”. Estava inconformado de terem feito isso, tinha um sono leve, não era possível terem feito tanto estrago sem despertá-lo. Desesperado, lembrou-se de seu computador. No dia anterior tinha terminado sua monografia sobre "como sobreviver sem o petróleo". Começou repentinamente a chorar em meio a gritos. Seu computador estava semelhante à televisão, espatifado ao chão, um amontoado de cacos e fios. Correu pela casa, para ver se havia perdido algo mais. Várias coisas, como seu cartão de créditos, sua "coleção" de saquinhos de supermercado, seu essencial pacotinho de chicletes, suas vasilhas de "um real", haviam desaparecido. "Pivetes", falou ele com um canto da boca espumando. Não conseguia montar um nexo para esses furtos aleatórios.

Decidiu ir à policia. Vestiu seu roupão, procurou seus chinelos, não encontrou. Calçou suas pantufas e desceu as escadas do prédio. Chegando à garagem, a imagem que via era aterrorizante. Todos os pneus, de todos os carros, haviam sido roubados. Podiam roubar tudo, menos encostar em seu singelo carrinho. A expressão de raiva deformava seu rosto, ao se deparar com seu automóvel sem maçanetas, sem pára-choques, sem retrovisores e mais outros tantos acessórios, que comprara guardando sua mesada de anos. Olhou pelo vidro, os assaltantes haviam roubado também sua gasolina. “Era demais”, pensou ele.

Ao passar pela portaria, fez cara de repulsa ao porteiro, possivelmente teria dormido, ao invés de cuidar da segurança. Ao sair, deparou-se com a cidade lotada, no entanto não havia carros, ou bicicletas, como usualmente, todos estavam a pé. O asfalto havia sumido, em seu lugar havia só cascalho. Na esquina encontrava-se um garotinho vendendo jornais como antigamente, aproximou-se e conseguiu ler a manchete principal: "População não tem mais o que reciclar, o petróleo acabou!". Sentiu um sopro no peito, aquelas palavras pareciam ter saído de sua monografia. Ficou em estado de choque novamente. As coisas começavam a se organizar em sua cabeça. O petróleo havia acabado e todos os seus derivados sumiram com ele. Não havia mais plásticos, borrachas, asfalto, nem goma de mascar. “Que horrível!”, pensou ele. Seus pensamentos logo foram interrompidos por um barulho estridente que fazia em sua cabeça. Caíra ao chão.

Abriu os olhos e não conseguiu acreditar no que via. Sua televisão estava de volta no lugar, intacta. Descobriu que o barulho estridente era do despertador. Calçou seus chinelos, deteve-se por um momento e pensou o quanto maluco ele era. Dormira pensando em sua monografia. Ainda faltava um mês para sua entrega. Levantou-se, encaminhou-se à cozinha, apanhou sua caneca plástica predileta, tomou seu café matinal, como se fizesse pela primeira vez. Caminhou pela casa, pegou um chiclete no pacotinho, e pôs na boca. Ligou o computador, abriu sua monografia e colocou um novo título: "A impossível vida sem o petróleo".

Paulo - Patrocínio-MG

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